Pessoas negras não precisam de terapia

 

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“Seja forte!” “Seja a melhor!”

 

Os estereótipos em torno da população negra são muitos, um deles é o mito de que pessoas negras são fortes, elas aguentam tudo. Perpetuar esses estereótipos são um mecanismo de manutenção do racismo, por conta de ideias como a citada, mulheres negras sofrem mais violência obstetrícia, sendo negada até a aplicação da anestesia, por exemplo.

 

Muitas amigas negras militantes já fizeram muitos relatos negativos sobre psicólogos e psiquiatras. Profissionais que não levavam em consideração as cicatrizes do racismo ou que sequer acreditavam da existência do mesmo, causando nelas um trauma e ocasionando o abandono do tratamento.

 

A realidade é que muitas de nós, mulheres negras que estamos psicologicamente adoecidas e dificilmente buscamos ajuda. Afinal, terapia é visto como luxo ou frescura e claro que investir nesses tratamentos é algo que muitas vezes sai caro e muitas de nós não podemos bancar, mas além disso, existe o peso do estereótipo da “mulher negra forte”, nós historicamente nunca fomos vistas como frágeis.  

 

Quando uma amiga veio me procurar para saber como eu estava e expliquei qual era o meu quadro, ela disse: “você não pode deixar isso te abalar, o que pode ser mais forte que nós, mulheres negras?”

A realidade é que nós mulheres negras não somos mais fortes, embora a gente passe grande parte da nossa vida fazendo força pra não sucumbir ao processo de desigualdade que estamos inseridas.

Me pego às vezes me sentindo culpada: “Imagina se iríamos comer caso minha mãe tivesse se entregado a depressão? Eu tenho tudo. Sou a primeira mulher graduada da minha família…” Logo sou interrompida pela realidade: “… e isso também pesa…”

 

Me lembro de quando mencionei a primeira vez na roda de amigos que tinha buscado terapia e que tinha fortes indícios de que eu estaria num princípio de depressão somado a ansiedade que já era problema antigo. Senti olhares de desconfiança e estranheza, um certo “ah, vc está exagerando”, ” ah, por favor, não seja tão dramática “.

Haveria as mesmas reações caso fosse a amiga branca do grupo que viesse contar que estava passando por um processo depressivo e que havia buscado terapia?

Neguei a clandestinidade, coloquei pra mim que me negaria ficar falando: “tenho consulta na sexta”, quando podia gritar: “NÃO DÁ, VOU PRA TERAPIA! “

A verdade é que meus amigos talvez só conhecessem a moça sorridente, brincalhona e exagerada ao falar dos problemas. Eles não conheciam a moça que tinha dificuldades pra dormir e que durante as madrugadas desejava morrer. Falar sobre isso com alguém foi reconfortante e foi isso que me fez seguir na terapia, aquela profissional não só estava me ouvindo, mas em nenhum momento me repreendeu por ter aquele sentimento. Ela só pediu que sempre que sentisse isso, para entrar em contato, por whatsapp, telefone ou o que fosse.

Mas eu sou privilegiada por ter tido tempo e condições para buscar ajuda e estar nesse processo em busca da recuperação. Mas e as outras mulheres que não tem a mesma chance que eu tive? Nós somos a maioria no subemprego, nós somos a minoria nas universidades e outros espaços de poder, nós somos a maioria assassinada pelas mãos do Estado. Como pensar na saúde estando inserida nesse contexto? Mais ainda, como pensar na saúde mental?

 

Esse post é uma súplica, é uma proposta, é um contrato. Quando perceber que uma mulher negra está passando por um quadro de problema emocional, psicológico ou psíquico, acolha esta mulher, não tente encaixá-la no papel de mulher negra que tudo suporta. Não exija que ela seja forte. Apenas ofereça apoio, colo e a incentive a buscar ajuda. Você pode estar salvando uma vida.

 

Essa conversa ainda continua…

 

Esse blog foi uma ideia que surgiu após 8 meses de terapia. Ele também faz parte do meu processo em busca de dias melhores. A intenção é compartilhar minhas vivências cotidianas pela perspectiva que tenho enquanto mulher negra com transtorno de ansiedade generalizado, por isso o nome AFROTAG, vocês podem me chamar de Frô, esse é nome que estarei usando nessa jornada.

 

Abraços!

 

Leia também:

 

http://blogueirasnegras.org/2015/05/08/depressao-e-coisa-de-branco/

http://meninasblackpower.blogspot.com.br/2015/02/parem-de-dizer-mulheres-negras-que.html

http://blogueirasnegras.org/2014/07/31/doencas-mentais-e-a-mulher-negra/

 

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