Consciência negra e educação escolar.

E novembro chegou. Com ele, as ações comemorativas escolares pelo 20 de novembro, data em que se comemora o dia da Consciência Negra. No ano passado fiz um post no meu perfil pessoal no Facebook falando sobre o que não fazer durante esse mês na intenção de trabalhar a cultura afro brasileira em sala de aula. Talvez alguns fragmentos desse texto postado lá, apareça aqui. O debate ainda se faz necessário.

Antes de tudo, é preciso que se compreenda: Nós não somos uma temática, conteúdo de uma aula. Não passamos a existir a partir de uma lei. Nós somos seres humanos e nos reconhecer e valorizar, faz parte da compreensão da nossa humanidade. Então até que verdadeiramente sejamos entendidos como humanos, a consciência será negra.

O contexto da sala de aula, é marcado pela diversidade seja ela de gênero, sexualidade, raça, classe ou religião. No entanto os currículos nem sempre contemplam essa diversidade. Para pensar consciência negra na escola, precisamos pensar que a luta por uma educação antirracista é cotidiana e não um mês de comemorações. Toda a prática escolar precisa ser repensada. O racismo institucional afasta negras e negros da escola todos os dias e os impactos sociais são grandes. Então é de extrema importância uma educação escolar que esteja de fato comprometida com a luta contra o racismo.

Educar para e com igualdade racial se trata de mudança de atitudes. Caso seja professora ou professor, pense no mural da sua escola, caso não seja, tente se lembrar dos murais das salas de aula que você estudou. Quando haviam crianças representadas, qual era a cor delas? Nos livros didáticos, apareciam pessoas negras para além do período da escravidão? Elas tinham representação positiva?

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Pode parecer bobagem, mas só o desfile da beleza negra em novembro, não dá conta de todo um ano letivo de apagamento ou de apenas ser visto como referência negativa. Todas essas pequenas violências interferem e contribuem para que o espaço de educação formal seja visto como um lugar de não pertencimento para pessoa negra.

As questões são mais profundas, não é possível abordar tudo nesse post e voltarei a falar sobre isso em outros momentos no blog, em outros meses também. Mas acho importante deixar algumas dicas mais imediatas:

 

  • Black Face é racismo. Não pinte as crianças de preto como atividade de consciência negra. Conscientizar é durante todo ano letivo, não vai ser usando tinta preta para as crianças “vivenciarem a experiência de ser negro” (como uma escola justificou) que você irá contribuir para luta antirracista. Muito pelo contrário. Sugiro que meus amigos educadores e pessoas que estão lendo esse post e não entende o porque, procurar fontes sobre o que é black face. Deixarei um link no final do texto.
  • NÃO USE EM HIPÓSTESE ALGUMA esponja de aço para representar cabelos crespos. Isso reforça o esteriótipo de que cabelo crespo é “cabelo bombril”.
  • É importante chamar pessoas do movimento negro para fazer alguma atividade, no entanto, é importante também que sua sala de aula se torne um reflexo positivo dos ensinamentos passados por essa pessoa. Dar importância a uma denúncia de racismo e questionar atos racistas são ações que contribuem para construção de uma educação menos desigual.
  • Sugerir que cabelo crespo não pode ser usado na escola porque é falta de higiene ou por qualquer outro motivo, também é uma face do racismo. A não ser que as crianças que tenham cabelos lisos também sejam obrigadas a raspar, manter cortado ou preso.
  • Somos negros o ano inteiro e não só em novembro. Sua aluna e seu aluno negro precisa estar inserido de maneira afirmativa no seu currículo durante todo o ano.

Alguns links pra ajudar no corre:

Aqui estão links de subsídios do MEC e da SECAD com diretrizes para construção de uma educação antirracista:

Plano Nacional da Implementação da lei 10639: http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=10098-diretrizes-curriculares&category_slug=fevereiro-2012-pdf&Itemid=30192

Parecer do CNE/CP 003 2004: http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/003.pdf

Orientações para a educação das relações étnico raciais: https://direitoaeducacao.files.wordpress.com/2010/02/orientacoes_etnicoraciais1.pdf

Esses materiais são muito ricos, tem diretrizes direcionadas para cada etapa da Educação Básica. Vocês irão ganhar muito acessando esses links.

Um pouco sobre Black Face: http://www.geledes.org.br/nega-maluca-black-face-e-racismo/#gs.ScN3des

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Esse contato também pode ser usado para solicitar minha presença na sua escola, na escola que você trabalha ou na escola do seu filha ou filho.

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Bruna de Paula

4 comentários sobre “Consciência negra e educação escolar.

  1. Bacana Bruna. Sou professora e desde julho estou desenvolvendo ações voltadas a questão étnico racial, as quais se estenderão até o fim do ano, no primeiro semestre me dediquei a gênero e sexualidade. E fico muito incomodada como as pessoas nas escolas ainda seguem fazendo coisas puramente para cumprir tabela e não produzem reflexão alguma.

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  2. Sou estagiária em uma escola.
    Ano passado, no dia da Consciência Negra, conversei com as crianças da minha sala.
    Dias antes, um aluno da sala havia me chamado de “elefante e macaca”.
    Foi a primeira vez que senti mais forte os efeitos do racismo.
    Sei que as crianças reproduzem como são ensinados em casa, mas é na reprodução que aprendem. Coisas boas ou más!
    Chorei sim, mas conversei com o menino que falou essas coisas. A professora também conversou com a sala.
    Pois na semana seguinte, levei meus livros infantis com meninas negras, turbante e conversei com a sala. Abri espaço de fala para as crianças e foi muito bom, mas a criança que eu mais queria que fosse no dia, não foi.
    Gostaram dos livrinhos, me perguntaram por que chorei, perguntaram sobre o turbante e aproveitaram muito mais do que imaginei.
    Entrei na sala ano passado (1° série), hoje continuo com eles (2° série) e ainda lembram da conversa que tivemos.
    Acho que plantei uma sementinha do bem, espero que sim!

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    1. Com certeza, Larissa. Esse é o espaço de desconstruir para transformar. Nossas pequenas e grandes ações fazem toda a diferença, pode ter certeza. O ruim que a gente não pode só viver esse lado da educadora que informa, que media a construção do conhecimento, a gente também vive o lugar da vítima e é aí que a coisa complica, mas vamos seguindo ♥️

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